Fala, galera! Hoje volto com a série
sobre valuation! E estamos chegando
no final!
Continuando de onde paramos, vamos à
parte mais prática da taxa de desconto.
Mas antes, precisamos entender alguns
conceitos. Um deles é o prêmio de risco do mercado. Outro conceito importante é
em relação ao rating que a empresa é classificada,
pois isso afeta em quanto ela consegue se alavancar (pegar um financiamento).
Com esses dois conceitos em mente, podemos fazer uma aproximação razoável. Além
disso, darei um exemplo da Ambev e mostrarei cálculos de WACC de outros lugares
para comparação.
Caso não esteja com paciência de ler tudo, pode
ir pro final que deixei um passo-a-passo de como calcular a taxa.
O prêmio de risco, basicamente, é o
percentual extra que o mercado acionário estaria pagando acima da renda fixa.
Historicamente, existe uma grande base
de dados em diferentes países. Damodaran cita que, no período até 2006, na
Espanha o prêmio teria sido de 2% para obrigações de longo prazo; já na França
teria sido 7,1%. Uma base de dados dos EUA no período de 1994-2004 teria sido
de 4,51%.
No Brasil, devido a um histórico de
altíssimas taxas de juros, por vezes tivemos este prêmio negativo. Aqui,
atenção: este prêmio leva-se em conta uma comparação com o IBOV, o qual sabemos
que não é um bom medidor de retorno do mercado.
De qualquer maneira, por vários dados
do mundo todo, pode-se dizer que estes retornos variam de épocas entre 2%-8%.
Essa diferença é GIGANTE! Mas, a ideia é ser conservador, para não criarmos
falsas expectativas. Damodaran em seu livro trabalha com uma taxa livre de
risco para o Brasil de 3,5% (calculado por uma abordagem de spread de
inadimplência) a 4,67% (obrigações do governo). Sendo conservador, poderíamos
utilizar o valor mais ALTO!
Por que o mais alto? Pois ele irá
AUMENTAR a taxa de desconto, o que irá subvalorizar a ação, jogando seu preço
mais para baixo. Assim, você estaria sendo conservador.
Uma conta correta, e por isso que eu
disse no artigo anterior que o cálculo era complexo, seria utilizar o CAPM,
calculando alguns betas (ou outro modelo mais avançado) para estimar qual seria
o retorno do mercado e adicionar o prêmio de risco ao mesmo.
Como minha ideia aqui é irmos pelo
básico, poderíamos pegar o retorno da renda fixa. Assim, considerando hoje a
SELIC em 7,25%, uma taxa de desconto para o patrimônio seria de 7,25%+4,67% = 11,92%.
Caso haja uma expectativa de que a
empresa tenha desempenho melhor do que do mercado, esta taxa deve ser
aumentada. O contrário também é válido.
Outra abordagem é no que se refere à
dívida. As agências de rating classificam as empresas e elas irão conseguir
financiamentos por um spread em relação à renda fixa. Quanto mais segura for a
empresa, menor será este spread.
Se o rating é divulgado, é só procurar
o da empresa e aplicar o spread equivalente à taxa livre de risco.
No caso de indisponibilidade dos
dados, Damodaran sugere criar um rating sintético, seguindo a tabela abaixo:
Razão
Cobertura de Juros
|
Rating
|
Spread
|
|
mín
|
máx
|
||
>
12,50
|
AAA
|
0,35%
|
|
9,50
|
12,5
|
AA
|
0,50%
|
7,50
|
9,50
|
A+
|
0,70%
|
6,00
|
7,50
|
A
|
0,85%
|
4,50
|
6,00
|
A-
|
1,00%
|
4,00
|
4,50
|
BBB
|
1,50%
|
3,50
|
4,00
|
BB+
|
2,00%
|
3,00
|
3,50
|
BB
|
2,50%
|
2,50
|
3,00
|
B+
|
3,25%
|
2,00
|
2,50
|
B
|
4,00%
|
1,50
|
2,00
|
B-
|
6,00%
|
1,25
|
1,50
|
CCC
|
8,00%
|
0,80
|
1,25
|
CC
|
10,00%
|
0,50
|
0,80
|
C
|
12,00%
|
<
0,50
|
D
|
20,00%
|
Fonte:
Avaliação de Empresas, Aswath Damodaran, 2ª edição
A razão de cobertura de juros é
calculada dividindo o lucro antes dos juros (EBIT) pelos juros pagos.
Assim, por exemplo, considerando a
Ambev, que nos últimos anos seu lucro disparou, mas as despesas financeiras não
mudaram tanto, teríamos aproximadamente hoje 12,96 bilhões de EBIT e despesas
financeiras na faixa de 1,3 bilhões, o que daria uma razão de cobertura de 9,8.
Segundo a tabela, o rating sintético da Ambev seria AA, com um spread de 0,50%.
Assim, o custo da dívida para a Ambev
seria de 7,25%+0,5% = 7,75%.
Aproveitando o caso da Ambev, sua
situação atual é a seguinte:
Patrimônio Líquido: 27,5 bilhões
Dívida total: 3,0 bilhões (705 milhões de curto prazo e 2,3 bilhões de longo prazo)
Dívida total: 3,0 bilhões (705 milhões de curto prazo e 2,3 bilhões de longo prazo)
Capital total = 27,5 + 3,0 = 30,5
bilhões
O retorno esperado pelos acionistas é
alto, em torno de 16%. Assim, já temos os dados do artigo anterior é só
calcular:
Wpl = 27,5/30,5 = 0,9014
Wd = 3/30,5 = 0,0986
WACC = (16% x 0,9041) + (7,75% x
0,0986) = 15,2%
Uma taxa alta, pois os acionistas
estão esperando um retorno alto e a dívida é muito baixa comparada ao
patrimônio líquido. Assim, praticamente todo o custo está "vindo" do patrimônio.
Aproveitando o embalo, se
utilizássemos o Modelo de Gordon, como o LPA médio dos últimos 12 meses foi de
2,8504 e considerando o crescimento perpétuo de 3%, o preço justo seria:
Valor = 2,8504 / (0,152 – 0,03) = 23,36
MUITO abaixo do valor de mercado! O
que isso quer dizer então? Quer dizer que o mercado está esperando um
crescimento forte da empresa por vários anos ainda.
Um crescimento de 10 anos a taxas de 20%
já daria um valor de R$ 72,77/ação, bem mais próximo ao valor de hoje (AMBV3 em
11-11-2012).
Por curiosidade, vejam os links:
Notaram como os WACC’s variaram
razoavelmente? Lembre-se que pequenas diferenças nesta taxa podem dar boas
diferenças no valor da cotação.
Fazendo um resumo, para ficar mais de
acordo com a o título do texto, ao melhor esquema passo-a-passo:
1)
Verificar o prêmio de risco do mercado e a rentabilidade do mesmo.
2)
Usar algum modelo, como CAPM, para estimar o retorno do patrimônio líquido da
empresa. Na pior das hipóteses, estimar um valor razoável. Valores entre 12% e
15% são razoáveis para o Brasil. Assim, já temos o Custo do Patrimônio Líquido.
3)
Verificar a classificação de rating da empresa.
4)
Caso não tenha classificação de rating, utilizar a tabela acima para sintetizar
um.
5)
Custo da Dívida = Taxa Livre de Risco + Spread do rating
6)
Verificar nos balanços da empresa a dívida e o patrimônio líquido
7)
Com todos os dados disponíveis, é possível calcular o WACC, conforme mostradono último artigo.
Bom, é isso aí, galera! Estou para
finalizar esta série, pois tenho muita coisa pra escrever ainda por aqui e não
queria deixar quem está acompanhando “chupando dedo” e esperando! Nos
próximos artigos irei dar exemplos do dia-a-dia, inclusive fazendo cálculos
retroativos. Vocês vão ver que as conclusões são bem legais!
Abraços a todos!
Oi, Parabéns pelos posts.
ResponderExcluirFiquei com uma dúvida, como você estima o retorno esperado pelos acionistas? porque 16%?
Uma empresa que possui alto P/L é pq espera-se um crescimento rápido e, consequentemente, um alto retorno por parte dos acionistas.
Excluir[]s!
Excelente a série e parabéns pela iniciativa.
ResponderExcluirMuito obrigado! Infelizmente não tenho tido tempo para atualizar o blog na frequência que eu gostaria.
ExcluirSds,