Fundamentos e o destino da Carteira Queda-Livre

E ae, pessoal, tudo certo? Mês começando e hoje venho falar um pouco sobre algo importante, que é sobre análise fundamentalista.

Creio que a grande maioria aqui já domina o conteúdo, mas para quem não acompanhava, fiz um estudo de caso de uma carteira “invertida em fundamentos”. A Carteira Queda-Livre. A ideia foi montar uma carteira com empresas de péssimos fundamentos. Os famosos micos. E como será que ela se comportou?

Como mencionado acima, minha ideia era fazer uma carteira baseada em empresas com péssimos fundamentos. Que fundamentos? Basicamente lucro. Todas elas apresentaram muitos prejuízos e péssimas perspectivas. A maioria do pessoal pega empresas boas e faz o estudo sobre elas, mas resolvi fazer o contrário para ver o comportamento. Afinal de contas, será que aquela história de que se uma emprese foguetear pode compensar todo o resto?

Uma das poucas verdades no mercado financeiro é que, no longo prazo, os papéis das empresas tenderão a seguir seus fundamentos. Por que longo prazo e não curto prazo? Bom, no curto prazo ela também segue, mas sofre de uma volatilidade muito maior com as incertezas acerca do futuro da mesma. No longo prazo, esta volatilidade é diminuída e fica mais em linha com os resultados. No site do Bastter, você pode conferir o comportamento das cotações vs. o lucro das empresas, anualmente. A correlação entre estes resultados é bastante notável.

Por que isso? É bastante simples: imagine uma empresa que cresce e melhora ano-a-ano, mas é “ignorada” pelo mercado e sua cotação não anda. Se for assim, em algum momento, chegaremos oportunidades incríveis, situações quase absurdas, por exemplo, a empresa lucrando mais do que ela deveria valer (i.e., P/L < 1,0). No frigir dos ovos, um cara grande como Warren Buffett compraria esta empresa por uma bagatela.

Assim, surge toda a ideia da análise fundamentalista: se eu investir em boas empresas e se elas entregarem bons resultados, naturalmente, é de esperar que os papéis subam junto com os fundamentos, auferindo assim lucro. Cabe aqui ressaltar que mesmo que haja crescimento da empresa, isto não garante que ela irá lhe trazer um retorno superior à renda fixa. Um crescimento muito baixo provavelmente não será compensador. Neste ponto, o Brasil é um país singular: nossas taxas de juros reais são muito altas e isso cria uma decisão complexa a ser tomada pelo investidor.

Bom, mas e se os fundamentos se deteriorarem, então é de se esperar que as ações também se desvalorizem? Sim, com certeza. Por quê? Simples: custo de oportunidade. Se possuo uma expectativa de que a empresa não conseguirá crescer, então é melhor eu me reposicionar em outra, vendendo os papéis da atual. Oferta x demanda: muitas pessoas pensando assim, vendendo os papéis ao longo do tempo, irão fazer com que as cotações caiam.

Resolvi fazer este estudo com a Carteira Queda-Livre. Abaixo a tabela com os resultados:

Mês	Rentabilidade
	Mensal	Histórica
ago/12	-13,46%	-13,46%
set/12	6,01%	-8,26%
out/12	-12,42%	-19,65%
nov/12	-4,08%	-22,93%
dez/12	-2,09%	-24,54%
jan/13	5,06%	-20,72%
fev/13	21,55%	-3,64%
mar/13	-15,13%	-18,22%
abr/13	-13,52%	-29,28%
mai/13	-4,41%	-25,80%
jun/13	-13,90%	-36,11%
jul/13	-16,55%	-46,69%
ago/13	3,25%	-44,95%
set/13	1,63%	-44,06%
out/13	-2,15%	-45,26%
nov/13	-9,09%	-50,24%
dez/13	0,55%	-49,96%
jan/14	-3,70%	-51,81%
fev/14	-0,94%	-52,27%
mar/14	-0,41%	-52,47%
abr/14	-1,49%	-53,17%
mai/14	-7,94%	-56,89%
jun/14	2,99%	-55,60%
jul/14	-35,55%	-72,14%

Cabe notar aqui que as empresas Agrenco (AGEN33) e Laep Investimentos (MILK33) estão com as negociações suspensas, ou seja, quem colocou dinheiro nelas simplesmente está com ele travado e sem poder negociar. Considero como perdido. A Agrenco está com o registro na CVM suspenso desde o dia 16/05/2014! A Laep não tem notícias relevantes na Bolsa desde 25/09/2013 e Marcus Elias, seu presidente, estava (ou está) sendo procurado pela Interpol. Inclusive, para mais informações de como um golpe pode chegar até a Bolsa de Valores, veja neste link.

Da tabela acima, veja o gráfico de 100mil reais investidos no tempo:

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Esta carteira... podemos dizer que é uma máquina de derreter dinheiro! E o interessante é que muita gente põe dinheiro nestes micos, começam a tomar prejuízo e depois falam “ah, vou deixar pra lá, um dia volta”. Notem a franca e forte queda da mesma. A carteira NUNCA conseguiu superar o seu valor inicial.

Alguns podem argumentar que o timeframe escolhido (2 anos) é um curto prazo. É verdade. Mas esta queda foi vertiginosa! Para se recuperar, o investidor agora precisa de uma alta de 260%! Mesmo que ele consiga esta valorização em 8 anos (fechando um timeframe total de 10 anos), isto seria o equivalente a,  partir de agora, que a carteira valorizasse o equivalente a 17,3%aa, uma rentabilidade almejada por muitos (e, atualmente, 7 pontos percentuais acima da renda fixa!). E isso sem contar o custo de oportunidade monstruoso!

Quais as lições que ficam desta carteira? Julgo importantes as seguintes:

- Papéis seguem fundamentos de seus ativos correspondentes, seja “para o bem ou para o mal”. Empresas com fundamentos piorando, terão cotações em queda. Empresas com fundamentos melhorando, terão cotações em alta.

- Entrou no mico e não sabe o que fazer? Agora já sabe: venda imediatamente. Não importa o seu prejuízo, é melhor vender logo e recuperar alguma coisa, antes que vá tudo embora. Na pior das hipóteses (como ocorreu com OGX e seus 98% de queda) ainda sobra um dinheiro para comprar um livro de investimentos...

- Estude. Muitas pessoas entram nessas furadas sem ter conhecimento de como funciona a dinâmica do mercado de ações e acabam tomando prejuízos gigantescos. Estudar é essencial.

Bom galera, hoje é só isso! Queria apenas mostrar o desempenho da Queda-Livre e mostrar que estes micos só tendem a fazer o que realmente se prestam: deixar você com o mico na mão.

Abraços a todos!

obs - A Carteira Queda-Livre e seu histórico podem ser acessados no menu acima.