Retrospectiva 2014

Como não poderia faltar, fim de ano é uma época para refletirmos acerca do ano que passou, das decisões que foram tomadas e suas consequências, de como o mudou ao nosso redor, de como nos comportamos, de como mudamos. É um exercício que, apesar de parecer clichê, é legal de fazer. O ser humano precisa de metas para entrar no eixo e nada melhor do que estudar e rever essas metas de tempos em tempos. E o período do final de ano encaixa-se perfeitamente nesta situação.

Vou começar falando da minha carteira.

Foram dois anos seguidos de quedas fortes, sendo que neste ano o IBOV me deu uma surra, indicando que a condução da carteira precisa de mudanças. Pelo sistema de cotas, já preciso recuperar 33% só pra empatar a cota inicial. Num país como o Brasil, onde o custo de oportunidade é absurdo, isso é tipo tomar surra. Pra terem ideia, comparando com a taxa SELIC no período, eu precisaria de uma alta de ~67% pra igualar a este índice. Se tá difícil arrumar 15% em um ano pela renda variável, do que dirá 67%!

Diante da situação, minha carteira será totalmente alterada já a partir de janeiro. Será mais enxuta e com a utilização de derivativos para aumentar a proteção sobre a mesma.

Antes preciso aqui deixar alguns pontos claros: minha carteira apresentada neste blog é apenas a de renda variável. Eu possuo investimentos em renda fixa (LCI e LCA), fora o plano de previdência da Petros (que já não estou contando muito nos últimos tempos, rsrsrsrsrs). Além do FGTS. Retirando o Petros e FGTS, minha alocação seria algo próximo de 75% em renda variável e 25% em renda fixa.

Eu não contabilizo tais investimentos em renda fixa, pois eles já possuem destinação e a minha ideia aqui é estudar e viver a vida de um investidor na renda variável.

No entanto, na minha “carteira renovada”, a renda fixa fará parte e seu peso será variável necessária para dimensionamento de posições, tornando-se assim parte integrante da carteira como um todo. Mas esta nova carteira ficará para um outro post, este aqui é sobre retrospectiva.

Não sou de falar da minha pessoal, pois simplesmente não é o objetivo do meu blog, mas nossas atitudes e decisões como um todo afetam tudo ao nosso redor. E 2014 foi um ano de renovação para mim. Apesar de continuar na Petrobras, mudei completamente de área, da água para o vinho. Como se houvesse mudado de emprego. Antes eu trabalhava na área de Logística de distribuição de petróleo e derivados e hoje estou numa área de engenharia mesmo, lá no miolo. Estilo Engenharia Básica, como a gente chama. E estou gostando muito.

Em um ano de política, entrei em fortes debates sobre o assunto o que me exigiu buscar conhecimentos que eu não detinha e a leitura de diversos assuntos. E nesta leva, foquei mais em livros sobre finanças e comportamento humano.

Infelizmente, certos assuntos não podem ser “lidos e aprendidos”. Eles precisam ser compreendidos numa forma ampla. E neste ponto, apenas ler um texto não funciona. É necessário bagagem, experiência e até maturidade.

Eu, por exemplo, em 2008 (ou 2009, foi por ali) havia lido A Lógica do Cisne Negro, do Taleb. Mas na época eu não tinha ainda esta “bagagem” para um entendimento amplo das ideias que ele passava. E é por isso que a releitura de livros é importante, pois você sempre consegue pegar ideias que num primeiro momento passaram despercebidas...

Neste ritmo, compreendi que muitas das coisas que eu falava sobre finanças eram falaciosas. Mas não por maldade minha (como alguns vendedores de e‑books). Mas sim pelo fato daquele ditado: “o diabo mora nos detalhes”. E tais detalhes que costumam passar despercebidos, por muitas vezes, são o calcanhar de Aquiles de nossas decisões financeiras. Muitas delas são intuitivas. Mas a intuição é uma arma perigosa em muitos casos e a estatística é uma das ferramentas que mostra isso de maneira clara.

De qualquer maneira, após me aprofundar nesta área o que percebi é que o foco é, realmente, não perder. E só isso. Nada de contas malucas para atingir Independência Financeira ou projeções de super rentabilidades comprando as melhores empresas do planeta.

Aprendi que o longo prazo é hoje. Pois o longo prazo nada mais é do que o curto prazo do futuro. E que o curto prazo também é hoje, pois nada mais é do que o longo prazo do passado. E isso cheira a Hipótese dos Mercados Eficientes.

Usar a questão do longo prazo como desculpa para não visualizar que os investimentos estão indo mal HOJE é no fim das contas apenas uma torcida.

O mercado é eficiente? Detalhe: você sabe o que o quer significa “Mercado Eficiente”? Pois é.

Voltando à carteira, deixei ela meio de lado esse ano. Não acompanhei bem os balanços das empresas e me faltam ainda critérios concretos para saída do papel. Este é um dos pontos que irei corrigir. E, nesta linha, irei mostrar aqui por A+B que a diferença entre um ETF e uma carteira própria é simplesmente monstruosa. Essa historinha de que “o ibov é um etf ruim, então vou montar tipo um etf próprio” é muita lenda. E mostrarei as gigantes diferenças.

Um ponto que gostaria de destacar aqui é sobre um “troll” chamado Mizifio que habita esse mundo virtual de finanças há tempos. Ele realmente gosta de trollar e sacanear, mas o mínimo sobre o assunto ele entende. E esse mínimo é muito maior do que apresentam os melhores blogueiros. Então, acho que ao invés de ficar reclamando, deveríamos dar ouvidos ao que ele tenta mostrar. Que num resumo rápido é simples: baixa exposição do patrimônio líquido em renda variável, pelo simples fato de ser impossível saber o que vem pela frente, por melhores que seja nossa capacidade analítica de fazer projeções.

Outra coisa que ele sempre atentou foi o fato de muita gente estar aqui com intuito de ganhar dinheiro, o que é verdade. Posso citar vários, mas não é necessário. Todo mundo aqui do meio sabe quem são, etc. Inclusive, já tem amigo nosso que já manifestou sua intenção de um dia abrir um “portal de finanças”.

Nesta linha, precisamos tomar muitíssimo cuidado. Pois assim como um gestor do fundo está preocupado em manter o mesmo funcionando para ele ganhar taxas, esses sites que vendem produtos (DVDs, e-books, serviços, etc) também só sobrevivem enquanto os clientes estiverem por lá. E a grande maioria deles não possui chancela profissional.

Existe um grande portal onde vendem dezenas de setups de análise técnica e continuam surgindo com novos... afinal de contas, o setups antigos não eram pra ter funcionado? rs

E ter uma certificação profissional também não quer dizer muita coisa. O que a história mostra bastante claramente é que existem vigaristas em todas as áreas: seja na medicina, seja na engenharia, seja no direito, seja nas finanças. Madoff que o diga.

Voltando ao fato da minha busca por leituras mais especializadas, tem um livro muito legal do qual, realmente, me fez mudar o ponto de vista sobre o mercado financeiro e gostaria de recomendá-lo aqui: Supermoeda, Adam Smith (não aquele Adam Smith, é só um codinome). Inclusive, você quer ficar MUITO rico? Esse livro dá pistas de como as coisas acontecem. E tivemos um exemplo recente aqui no Brasil: Eike Batista. Como de repente ele foi parar em 8º mais rico do mundo?

Após ler este livro você começa a enxergar um mundo muito mais obscuro que existe por trás do mercado financeiro. Assim como qualquer ferramenta criada pelo homem, o ser humano sempre dá um jeito de utilizá-la para o bem e para o mal.

Ainda por essa linha, alguns vivem me perguntando por que mudei tanto meus pontos de vista antigos e etc. Bom, está implicitamente respondido acima: foi porque comecei a estudar por fontes confiáveis, de autores renomados e não de blogs de aprendizes do Wikipédia. Ao ler um texto do Damodaran ou do Graham fica evidente que o que é propagado por aí está incorreto. Utilizam-se frases soltas destes autores, fora de contexto e as tomam como Cláusulas Pétreas por parte de aproveitadores. Ao ler os textos completos destes autores bons é possível perceber que os mesmos não costumam deixar as pontas soltas...

Pra fechar, li um texto esses dias do Elio Gaspari, onde ao final ele cita uma passagem do juiz Robert Jackson e que acho que tudo a ver com esse meu ano em relação a finanças:

“Não vejo por que eu deva ficar conscientemente errado hoje porque, inconscientemente, estive errado ontem."

Que 2015 seja um ano melhor para o país e para os investimentos!

Abraços a todos!