Uma das coisas que mais ocorrem no
dia-a-dia é quando fazemos um trabalho utilizando a ferramenta errada. Não
deveria ser feito, mas no desespero, pressa, preguiça, ou seja lá o que for,
acabamos dando um jeitinho.
Creio que, na verdade, é até natural
pensarmos em comprar e vender coisas na nossa sociedade, por vários motivos.
Alguns, creio eu:
- Aparentemente, você faz “dinheiro
rápido”;
- Não possui chefes, só você;
- De certa forma, você só dependerá de
você mesmo para atingir seus resultados.
- Necessidade;
Pense num carro. Quando eu penso em um
carro, imagino um veículo para que eu possa utilizar como transporte.
No entanto, existe muita gente que
fica comprando e vendendo carros. E quando eu falo gente, não estou falando de
concessionárias e lojas, não. Estou falando de pessoas físicas. Também não
estou me referindo ao cara que vai comprar um carro zero e, como já tem um
carro, precisa vender o que ele tem em mãos.
Estou falando daquele cara que fica
procurando carros baratos no mercado pra comprar e, logo em seguida, já anuncia
para vender com 10, 20, 30% do preço que acabou de comprar. E tem gente que
vive disso!
Venhamos e convenhamos: o carro não
foi inventado para as pessoas ficarem negociando eles. Nada contra quem faz
isso, mas é o que eu quis dizer com o título do texto: será que você está
utilizando a ferramenta certa para fazer o trabalho?
Veja: se você utiliza um serrote para
pregar os pregos dos quadros, e faz isso sempre, com certeza você vai pegar uns
“macetes” do trabalho e vai acabar sempre se virando. Mas, com certeza
absoluta, nunca ficará tão bom quanto você utilizando o martelo.
E, se isso ocorre com carros, balas,
pipas, imóveis, imaginem no Mercado Financeiro? O mercado cria um produto
financeiro e no dia seguinte já estão especulando sobre o mesmo. As opções, que
deveriam ser utilizada como seguro, são utilizadas como especulação das mais
tensas. E a venda a descoberto?! Em que planeta isso é INVESTIMENTO? Pura
especulação!
O que eu quero com este post é mostrar que quando utilizamos a
ferramenta de maneira correta, tudo fica mais fácil.
Por exemplo, vamos a ferramenta mais famosa da Bolsa de Valores: os gráficos das
cotações de ações!
O que dizer sobre essa ferramenta?
Olhando para o histórico do Mercado de
Ações, vemos que o mesmo foi criado para dividir os lucros. Esta é a
essência. E quando você entende isso, você entende muita coisa, pois o
movimento é consequência do resultado disso, com o perdão do pleonasmo (e de muita especulação em cima
disso!). De fato, as pessoas que compram ações deveriam estar interessadas,
primeiramente, no comportamento do lucro das empresas. Depois no seu preço. Por
exemplo, empresas que há anos só dão prejuízos não deveriam ser nem analisadas
por um investidor.
No entanto, a maior parte da
movimentação do mercado é especulativa. Não que isso não funcione. Eu também
faço meus trades de vez em quando.
Mas, por exemplo, nem passo perto dessas empresas que só dão prejuízos
(chamadas micos). Entrar num mico é apostar. Mesmo assim, fazer trades exige análise de probabilidades, estudar os gráficos, planejar stops, análise risco, projetar prejuízos, limitar capital, etc. Não é tão simples.
Bom, mesmo com as boas empresas há que
ter muito cuidado. Vou pegar um exemplo da Petrobras, que é bastante
instrutivo, pois você verá que não é só chegar e olhar o gráfcio.
Em 2008, as ações da Petrobras (PETR4) chegaram a valer R$ 52. Hoje estão na casa dos
R$ 24. Você poderia dizer então que a empresa vale menos da metade, correto? Na
verdade isto está completamente errado. Explico: em 2010 a empresa realizou uma
capitalização (emitiu mais ações). Antes, havia 8,77 bilhões de ações da
empresa. Hoje, são 13,04 bilhões.
Nota-se que a empresa, no topo de 2008,
valia no mercado em torno de 456 bilhões. Hoje, ela vale 313 bilhões.
Se olharmos para as cotações apenas, iríamos entender que a o valor de mercado
da empresa desvalorizou quase 54%, quando na verdade a queda foi de 31%. Uma
diferença MUITO grande. Pra ser mais exato, você estaria errando por 100 BILHÕES, que nas cotações de hoje (02/04/2012) seria o equivalente a errar por QUATRO CSN's.
Que coisa, não?
Esse tipo de coisa você NUNCA vai ver no gráfico, sabe
por quê? Porque ele só mostra preço. Eles são muito bons para especulação. Nem
tanto para investimento...
Tá, mas você vai dizer “o que isso
importa?”. Importa o seguinte: se as ações hoje chegarem em torno de R$ 35
estarão equivalente ao mesmo preço de 2008! Ou seja, no topo histórico de valor
de mercado da empresa.
Mas também não quer dizer só isso.
Veja, o valor de mercado da empresa está associado ao lucro da mesma. Se o lucro aumenta e se a expectativa dos
lucros é que continuem aumentando, o valor de mercado da empresa tende a
aumentar também. Vejamos a tabela abaixo:
PETROBRAS
|
2008
|
2011
|
Ações (em bilhões)
|
8,77
|
13,04
|
Cotação (por ação)
|
R$ 52
|
R$ 24
|
Valor de Mercado (bilhões)
|
R$ 456,04
|
R$ 312,96
|
Lucro (bilhões)
|
R$ 27
|
R$ 35
|
P/L
|
16,89
|
8,94
|
L/P
|
5,92%
|
11,18%
|
O índice P/L (preço sobre lucro) é um
indicativo que pode ser utilizado para avaliar se uma empresa está barata ou
não e quais as expectativas do mercado em cima da mesma. Índices P/L de
empresas cíclicas (como a Petrobras) com valores abaixo de 10 podem ser
indícios que a empresa está barata.
Tomando essa base, vemos que no topo
da crise a Petrobras tinha um P/L de 16,89. Para exatamente o mesmo valor de
P/L a empresa deveria atingir uma cotação em torno de R$ 45,30. Seria mais
correto que o R$ 35 mencionado anteriormente. Mas ainda longe dos R$ 52 de
2008.
Assim sendo, podemos concluir que
simplesmente analisar um gráfico de preços pode não dizer muita coisa e, pior,
dar informações errôneas. Será que o gráfico é uma boa ferramenta para
investimento? É algo útil, mas está longe de ser uma ferramenta do que chamamos de investir. Investimento, em ações, é estudar empresas,
analisar o mercado na qual estão inseridas e tentar visualizar quais
conseguirão se destacar ou não.
Bom, pode parecer chato, sacal e etc, mas se você não quer tomar conta do seu dinheiro, quem você acha que irá tomar?
A propósito, Warren Buffet nem olha o
gráfico. Só depois de “valorar” a empresa é que ele, e todo e qualquer
INVESTIDOR em VALOR, olha o preço e decide se vão ou não comprar...
E você, está utilizando as ferramentas
certas no seu dia-a-dia?
OBS.: este artigo não representa
recomendação de compra ou venda de nenhum dos ativos citados acima. Como
política de transparência, informo que sou acionista da Petrobras.
Dimarcinho, o único ponto que faltou você colocar aí no seu texto é que, ainda que a Petrobrás tenha se desvalorizado "apenas" 31%, o que o investidor (ou sócio minoritário) sentiu foi seus investimentos desvalorizando em 54%. Pode até ser que a empresa não tenha se desvalorizado tanto, mas as economias de quem investiu seu dinheiro nela caíram pela metade.
ResponderExcluirNa minha opinião, se você está neste grupo e não se sente prejudicado, não é uma boa fonte de orientação sobre finanças... Pelo menos as minhas, eu só quero que cresçam...
Com certeza absoluta, Edward!
ResponderExcluirE o q eu quis dizer foi justamente que as ações nem tão cedo devem chegar ao patamar que tinha antes! E que para que voltasse em termos de P/L, voltaria apenas para R$ 45,30
E foi isso mesmo, o minotaritário se deu mal... mas na época eu não era acionista, não! Eu compro qdo tá baratinho, tipo agora ;)
No entanto, em termos de análise de empresa, pra comprar hoje ou não, essas coisas fazem MUITA diferença...
Grande abraço!