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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sobre Renda Fixa, fluxo de caixa, duration...


E ae, galera, tudo na paz? Hoje venho com um artigo sobre Renda Fixa.
Já adianto que não é muito a minha praia, mas a motivação foi devido a um assunto que surgiu no site do Corey e que o MaxInvest acabou contestando.
A discussão acabou indo para um lado de que ativos que geram renda seriam mais seguros do que artigos que não geram. Segundo o Max, por exemplo, ter títulos do Tesouro Nacional com NTN-B (que pagam cupons) ou ter títulos NTN-B Principal e ir vendendo eles aos poucos daria no mesmo.
Será mesmo?
Alguém já parou pra pensar: você acha normal alguns títulos do tesouro que valorizaram 30%, 40% em um ano? Já pararam pra pensar também que se valorizaram isso, poderiam também ter DESVALORIZADO o mesmo percentual?
Bom, já há alguns meses que passeio pela blogosfera e, quando falam de renda fixa, NUNCA vi ninguém citar alguns conceitos importantes sobre a mesma, que são Duration e Convexidade. Vou ficar só no primeiro hoje, pois, como já comentei, essa não é muito minha praia.
Já falei algumas vezes, me parece ter muita gente no Mercado de Ações sem entender o básico de finanças. O conceito de VPL é importantíssimo e é exatamente a partir dele que um título é precificado. Pense num título que irá pagar cupom 10%aa (como uma NTN-B) e outro que não irá pagar este cupom, terá apenas o principal (como uma NTN-B Principal). O fluxo de caixa seria assim:
Ano
NTN-B
NTN-B Principal
0
-1000
-1000
1
100
0
2
100
0
3
100
0
4
100
0
5
100
0
6
100
0
7
100
0
8
100
0
9
100
0
10
1100
2593,74
Em ambos os casos, o VPL é idêntico: $ 1.000,00. Ou seja, matematicamente falando, tanto faz realmente investir em um ou outro. Mas a matemática pura e simples é perigosa...
Antes do conceito de Duration, vou perguntar a você: se tivesse que emprestar $1.000,00 para alguém, iria preferir qual fluxo de caixa? Creio que o primeiro, afinal de contas, é muito mais fácil para o devedor ir pagando aos poucos ao longo dos anos do que deixar para pagar a dívida toda de uma vez só, não é verdade? Mesmo que ele dê o calote em algum momento, pelo menos parte do investimento você recebeu.
Mas, então o que difere de um fluxo para o outro? O que difere é o risco de ter o dinheiro de volta ou não. Tomar um calote na segunda situação é bem mais provável.
A Duration é uma medida de sensibilidade de primeira ordem do preço de um ativo em relação à taxa de juros. Coloquei um link no final do artigo com fórmula da mesma.
Para o exemplo dado anteriormente, teríamos:
Título (10 anos)
Duration (anos)
NTN-B
6,76
NTN-B Principal
10,00
A Duration representa o prazo médio que o título teria o retorno, ao mesmo tempo em que também representa volatilidade. Sua unidade é dada em tempo, normalmente anos. Quanto maior a duration, maior a volatilidade do título em relação à taxa de juros.
Vejamos a página do Tesouro Nacional, onde coloquei uns destaques entre títulos de mesmo prazo de vencimento.
Clique para aumentar
Notem: quanto maior o prazo do título, maior foi sua variação percentual nos últimos meses, para uma mesma mudança na taxa de juros (afinal, a taxa básica afeta todos).
E aqui, o motivo do artigo de hoje: notem que os NTN-B Principal são bem mais voláteis do que os NTN-B! Por que isso? Porque a Duration do primeiro é maior que o do segundo!
Reparem que quanto maior a Duration, maior a volatilidade. Enquanto os títulos de 2015 tiveram uma diferença de apenas 0,89%, os títulos de maior prazo (com maior duration!) tiveram diferença de 13,98%! Uma diferença gigante!
Aqui, podemos ver uma coisa que os gestores de fundos de renda fixa já sabem há muito tempo: títulos que pagam cupons são menos voláteis do que os títulos que não pagam. E em se tratando de independência financeira, é melhor ter um patrimônio que gera renda e seja menos volátil, do que um patrimônio no qual você irá precisar se desfazer aos poucos e que ainda por cima é mais volátil!
Não se enganem: uma longa alta na taxa de juros iria destruir o valor dos títulos e, como os mesmos estão sendo vendidos para poder sustentar o investidor, isto poderia causar um problema sério. Já para o título que paga cupons, como os mesmos já estão fixados, em nada afetaria a vida do investidor...
Assim, títulos que geram renda (ou seja, pagam cupons) são menos voláteis do que os títulos de mesmo prazo que não o fazem.
E o mesmo paralelo pode ser feito para outros ativos: como estamos sempre adiantando receitas, isso diminui o risco de calote.
Grande abraço a todos!
OBS.: caso queira saber um pouquinho mais sobre o assunto, o material do Wikipedia parece estar bem legal, apesar deu ter lido só o início:

25 comentários:

  1. Boa tarde, Dim!

    Muito bom seu post.
    Mas a linha de sua argumentação se baseia apenas em um cenário, um cenário de quem já atingiu a IF e vai gastar seu patrimônio para se sustentar.
    .
    No meu post, eu foquei principalmente no cenário de quem está acumulando patrimônio e vai reinvestir o cupom.
    Nesse caso, o investidor que comprou a NTNB, além de pagar os custos de reaplicação dos tickets, ainda sofreria com a volatilidade, pois não conseguiria comprar o mesmo título com a mesma taxa em todos os semestres...

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    1. Mas, Max, o título é "menos arriscado". Quanto isso tudo certo, correto?

      Não vejo então como reinvestir no titulo menos arriscado dá no mesmo que no título mais arriscado... só pq há reinvestimento dos cupons?

      Se fosse dinheiro novo faria diferença?

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  2. Se vc levar o titulo ate o final a taxa acordada no comeco sera a recebida, independentemente se no meio do caminho valorizou ou desvalorizou 30%, 50% ou qualquer valor. Se vc nao esta especulando com TD nao tem importancia as variacoes. Acho inclusive mais complicado ficar reinvestindo os cupons (sempre tem a tentacao de dinheiro em caixa).

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    1. Olá, Diego,

      isso só se ocorrer tudo certinho e dentro do planejado... o post trata justamente sobre isso...

      []s!

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  3. difinance, você mencionou dois fatores, mas na verdade a análise de investimentos em renda fixa são bem mais complexos do que parecem. Do ponto de vista de risco, além do risco de calote (crédito) o investidor precisa avaliar: risco da taxa de juros, yield curve, call e prepayment (não tão comuns em títulos públicos, mas comuns em debêntures), reinvestimento, crédito, liquidez, inflação e poder de recompra e volatilidade.

    Apesar do NTNB ter um risco menor de calote, por outro lado existe um risco maior de reinvestimento já que terá que reinvestir o cupom pago com menor taxa de juros se a tendência da Selic é de queda.

    Para quem quer entender melhor o mundo de renda fixa, sugiro um dos livros preparatórios para a certificação CFA: Fixed Income Analysis.

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    1. Olá, Miguel,

      sei que existem outras coisas envolvidas e, como mencionei, por não ser muito minha praia, não quis avançar muito.

      O que quis demonstrar é que há diferença entre investir em títulos que pagam cupom e os que não pagam.

      Obrigado pela sugestão do livro. Já há algum tempo que procuro material bom sobre gestão de renda fixa.

      []s!

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    2. O artigo ficou ótimo dimarcinho. É um tema interessante, que já tive discussões longas com um amigo há pouco atrás.

      []s

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  4. Muito bom seu post!

    É um assunto que merece ser discutido mais amplamente daqui pra frente. Este cenário de juros baixos pode estar "popularizando" aquele investidor que especula em renda fixa, aproveita a volatilidade dos títulos públicos como forma de alavancar os rendimentos.

    Abcs,

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    1. Pois é, FI!

      O TD tá salvando MUITA carteira esse ano. Imagine o estrago da Selic subindo num ano ruim como este?

      Outro dia vi um cara q chegou pra mim e falou "Po comprei um título do TD que ESTÁ PAGANDO 3%am..." Eu falei: "Está pagando ou PAGOU?"

      Outra foi de um amigo meu que não sabia que os títulos variavam com a Selic, pois o dele era só atrelado ao IPCA e "não tinha nada a ver".

      Mas é isso, precisamos estudar sempre!

      []s!

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    2. Acho que qualquer acerto na taxa selic em 2013 ou 2014, mesmo que seja uma política de aperto monetário curta, vai fazer um estrago grande nos títulos do tesouro. Ou mesmo acreditando num cenário hipotético onde a taxa selic permanecerá baixa sem ajustes, acho que o próprio mercado se encarregará de corrigir este excesso na rentabilidade dos títulos do tesouro, conforme os papéis vão se aproximando do vencimento.

      Abcs,

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    3. Falou tudo, FI!

      Como os títulos valorizaram muito, mantendo o mesmo patamar de SELIC, é esperado que eles valorizem menos agora, para poder voltar à média.

      Não vejo hoje com bons olhos investir na NTN-B; acho q se eu fosse investir agora, iria de LTN, pois um aumento da SELIC faria com seus títulos valorizassem.

      E, na minha humilde opinião, a SELIC hj tá com cara de ficar parada/aumentar do que diminuir...

      []s!

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    4. Acho que quem investe em tesouro direto deveria comprar pra segurar o título até o vencimento, e não tentar especular em cima dele. Dessa forma, pouco importa se a taxa num determinado período foi de +30% ou -30%. O que importa é se a taxa contratada é agradável ou não. Se for para especular, porque não a bolsa? Muito mais líquida e volátil, muito melhor do que títulos para especulação.

      Concordo com a última frase, de que a SELIC hoje está mais com cara de ficar parada ou aumentar do que de diminuir. No entanto, não acho que a SELIC voltará pros 2 dígitos. Pelo menos não no curto prazo.

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    5. Fala, AP2038!

      Concordo contigo. Mas os investidores querem, justamente, se aproveitar das oportunidades de mercado, seja na RF, seja na RV.

      Grande abraço!

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    6. AP38,

      Depende. Entendo que para especular com os títulos do tesouro o investidor precisa basicamente estar com uma análise macro afiada e acompanhar o mercado de juros futuros. Além é claro de entender como funciona o mercado de títulos públicos. Para especular na bolsa o investidor precisa de uma carga maior de análise e um sistema de operações que funcione de acordo com o seu perfil de risco e estado psicológico.

      Sobre a taxa selic concordo totalmente, dificilmente retorna para os 2 dígitos. No curto prazo acho que fica um pouco estagnada nos 7,25% com possibilidade de pequenos ajustes na segunda metade de 2013 ou início de 2014.

      Abcs,

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    7. *Não vejo hoje com bons olhos investir na NTN-B; acho q se eu fosse investir agora, iria de LTN, pois um aumento da SELIC faria com seus títulos valorizassem.

      correção, quis dizer LFT e não LTN!

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  5. Sei que até mesmo o tesouro direto não é livre de riscos, mas de todos os investimentos que tenho acesso é o mais próximo disso.

    Vamos esquecer, por um momento, o risco de calote.
    Considerando isso, prefiro NTNB Principal, pois não preciso do pagamento dos cupons. Se eu recebesse os cupons, eu precisaria reeinvesti-los. É mais provável que eu consiga uma taxa menor do que eu paguei pelo título, visto que, no longo prazo, a tendência é de queda. Por exemplo, em 2008 eu comprei NTNB Principal com vencimento em 2015 e 2014 recebendo 9,9% e 7,5% (+IPCA). Se tivesse comprado a comum, não iria conseguir reinvestir com essas taxas.
    Outra coisa, há cobrança de IR no pagamento do cupom. Incide sobre um cupom recebido a tabela regressiva. Então, alguns cupons serão taxados em mais de 15%.

    Agora vamos considerar o risco de calote. Qual seria a aplicação em RF com risco menor que o tesouro direto?

    Como alternativa aos cupons de juros, eu prefiro (pelo menos agora, como não aposentado) comprar títulos com datas de vencimento diferentes. É possível tentar "casar" o objetivo do investidor com o vencimento do título. Se o objetivo é juntar dinheiro pra comprar uma casa daqui 5 anos, compre títulos com esse vencimento.

    Quanto a escolha dos gestores de fundos de renda fixa, só quero fazer um comentário. Não sei porque alguém investe com esses caras. Eles só compram esses títulos, melhor comprar direto, pelo menos ganha-se a taxa de administração. Faz sentido adquirir cotas de fundos ativos, mas de fundos passivos (fundos que espelham o ibov ou que apenas compram títulos, por exemplo) é bobagem, melhor comprar direto.

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    Respostas
    1. Fala, AP2038!

      Veja só: os títulos que pagam cupons são menos voláteis. Ponto final. Isso é indiscutível. E para quem gosta de atrelar volatilidade a risco...

      O risco de calote SEMPRE existe. Há 20 anos atrás tínhamos inflação cavalar. Quem garante que daqui há 30 também não teremos? Já temos títulos aí pra 2050. Muita coisa pode acontecer. Do futuro ninguém sabe e é por isso que qto mais longo é o prazo do título, maior o risco dele...

      O que ocorre, é que o Max havia dito que tanto fazia investir em um ou outro, opinião da qual discordo, pois ambos possuem volatilidade E retornos diferentes...

      Sobre a gestão de renda fixa, não é só sobre investimentos simples do tipo nós fazemos. Existe a parte de dívidas, alavancagem, fundos de previdência, etc, etc, etc. São muitas áreas de atuação. E gerir R$100.000 é uma coisa. Gerir R$10 milhões é outra, pois qq percentualzinho faz muita diferença...

      Grande abraço!

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  6. Olá dimarcinho!

    Demorei pra aparecer pq estava viajando...

    Cara, texto muito detalhado, como sempre. Na minha opinião vc está certo, o risco atrelado ao prazo deve sim ser considerado. O mesmo vale para CDBs que só possuem resgate no final. Deve-se analisar bem antes de cair num CDB mais longo, pq cada dia a mais, o risco aumenta.

    Eu continuo preferindo modalidades que gerem fluxo de caixa ou que retornem parte do investimento periodicamente, afinal, IF (meu objetivo) é ter fluxo de caixa.

    Abração!

    Corey

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    Respostas
    1. Fala, Corey!

      CDB's em teoria seriam mais arriscados, pois os bancos teriam maior probabilidade de quebrar do que o governo (será? rsrsrsrs)

      Mas não tem jeito: os títulos que pagam cupons possuem menor risco do que os que não pagam.

      []s!

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    2. A duration/volatilidade é UM dos riscos, mas como já comentado acima há tbm o risco de reinvestimento, ou seja, não conseguir remunerar os cupons c a mesma rentabilidade inicial, acarretando uma menor rentabilidade no período total das MTB c cipm. Outro risco (conforme já comentado) é a variação da selic. Enfim, muitas variáveis interferem, e em cada cenário tem peso diferente. Vc tem, como sempre, q fazer uma aposta :)

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    3. Com ctz, Jorge!

      Existem outros riscos. A Duration representa é apenas um deles.

      []s!

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  7. boa materia, os titulos de longo prazo variam bastante. mas para um investidor que vai levar o titulo ate o vencimento essa variação não prejudica em nada. Eu so vejo vantagem, pois eu ganha o IPCA+6%, no meu caso. Claro que quem comprou com uma taxa de 4%a.a, vai ganha menos mais e uma boa taxa a níveis internacionais.
    Vale resalta que podemos diversificar, eu por exemplo faço compras de titulos de 5, 7,10,20, anos.prefixados e indexados.
    para titulos mais longo como os de 10, 20 anos prefixo ganho o fluxo semestrais, ja os de 2, 3, 5 os precificados sao interessante. para os conservados indexar ao IPCA sao indicados garante a inflação mais taxa real esse sao meu favorito e o que o Mauro Halfeld mais indica.
    O TD e o investimento com menor risco de mercado.e o melhor da renda fixa.
    Para o pequeno poupador conservador e perfeito. Queria tem conhecido ele antes.

    Andrade

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