Hoje gostaria de introduzir uma ideia
de risco diferente da famosa “quanto maior o retorno, maior o risco”.
Trabalhei na área de Análise de Riscos
de Processos Industriais durante três anos e meio. Lá, calculávamos o risco o
tempo inteiro. Se uma esfera de GLP explodisse, quais seriam as consequências?
Qual a probabilidade? Como evitar o pior? Coisas desse gênero.
A definição de risco nesta área da
engenharia é bem direta:
Risco = Severidade x Frequência
Severidade = dano causado pelo evento
Frequência = frequência de ocorrência
do evento
Transportando para o mundo financeiro,
poderíamos dizer que a severidade seria o prejuízo que um investidor poderia
ter. E a frequência é sempre possível converter em probabilidade, e, assim
sendo, teríamos a probabilidade do evento ocorrer. Assim, poderíamos colocar da
seguinte maneira:
Risco Financeiro = Prejuízo x Probabilidade
do Prejuízo ocorrer
Na verdade, este conceito é,
matematicamente falando, equivalente à parte “ruim” da equação de Esperança.
O conceito de Esperança é um conceito
estatístico que dá o retorno médio de várias operações, ponderadas pela probabilidades das mesmas ocorrerem.
Por exemplo, caso você tenha uma operação com probabilidade de 30% de dar certo com retorno de 8% ou 3% se der errado, a esperança seria:
Por exemplo, caso você tenha uma operação com probabilidade de 30% de dar certo com retorno de 8% ou 3% se der errado, a esperança seria:
E = 8%*0,3 + (-3%)*(1-0,3) = 2,4% – 2,1%
= 0,3%
Ou seja, esta operação, se repetida várias e várias vezes sob as
mesmas condições, traria um retorno médio de 0,3%.
Com mais atenção, a parte do prejuízo
é idêntica ao conceito de risco que introduzi acima.
Mas a equação acima só se tornaria
real se a operação fosse repetida muitas vezes. Para um investidor pequeno, que
não pratica tantas operações assim, ela é inútil. No entanto, o conceito de
risco é útil.
Você pode alocar o seu capital e
utilizar a equação para um cálculo de risco. Mas interessante é poder fazer
diferentes comparações.
O que seria mais arriscado? Uma
operação com probabilidade de 90% de dar errado, mas com apenas 1% de perda do
patrimônio ou uma operação com 1% de dar errado e perda de 90% do patrimônio?
Em termos de risco, seria idêntico,
mas provavelmente ninguém se arriscaria na 2ª operação.
Será?
Um caso interessante é o da própria
venda a descoberto de opções out-the-money. Temos
neste caso probabilidade baixa, prejuízo grande.
Comprar opções out-the-money a seco enfrenta a seguinte situação: prejuízo baixo,
probabilidade alta.
Uma operação onde você pode ganhar
300% ou perder 100%, com 50% de probabilidade para cada lado, poderia ser
interessante como custo benefício, mas você só obterá o benefício estatístico
se realizasse esta mesma operação dezenas, centenas, milhares de vezes.
Só que o mundo real você, muito
provavelmente, só teria a chance de realizá-la uma vez. E o risco é esse: 50%
de chance de você perder tudo! Será que vale? Isso é aposta, não é investimento...
Calcular o primeiro termo da equação,
prejuízo, é simples demais, afinal de contas, é o capital que está sendo
colocado em risco.
Mas e a probabilidade? Este parâmetro
é o mais complicado e creio que não há como calcular ele com exatidão. Mas como coloquei no artigo anterior, apenas um investidor
muito bem informado sobre o negócio pode fazer uma estimativa melhor. Um
investidor que conhece a fundo um negócio/empresa poderia tentar estimar uma
probabilidade daquilo dar certo ou errado.
Já um investidor com pouco
conhecimento vai estimar errado e vai acabar dependendo apenas da “sorte” para
ajudá-lo.
Hoje fiz a introdução deste conceito
diferente de risco. Ele é útil para comparações, mas não esqueçamos que a
matemática pura pode ser cruel. Sempre há que avaliar.
Abraços a todos!
Bom artigo.
ResponderExcluirO problema é exatamente o que você disse no último parágrafo: "Mas e a probabilidade? Este parâmetro é o mais complicado e creio que não (acho que faltou um 'há' aqui) como calcular ele com exatidão."
Como não tem jeito de calcular ele exatamente, o que se pode fazer é olhar para o passado para estimar essa probabilidade. Claro que o ideal seria saber exatamente qual é esse valor, mas como não tem jeito...
[]'s
Fala, AP2038!
ExcluirFaltou mesmo, já corrigi!
Mas olhar para o passado pode ser perigosíssimo... como eu disse, é necessário avaliar muito bem o negócio, seja olhando o cenário passado, seja fazendo projeções para o futuro.
O conceito, na verdade, reside em vc se cercar dos riscos que poderiam influenciar mais no negócio. E se isso? E se aquilo?
Baseado nisso, vc traça uma estratégia para se proteger (ou diminuir) a exposição à eles. Isto se estiver valendo à pena, é claro.
Grande abraço!
O problema de não olhar para o passado é que é impossível não fazer isso.
ExcluirPor exemplo, falando de investimentos, você disse em algum lugar que compra empresas com lucros crescentes, um dos "mandamentos" do INI. Mas comprar empresas com lucros crescentes é olhar para o passado, pois é a única forma de ver se o lucro está crescendo! Analisar um relatório trimestral é olhar para o passado.
Além disso, em qualquer área, a melhor forma de ESTIMAR como uma coisa vai se sair no futuro é olhando para o presente e o passado.
O que acho que é um problema é achar que só porque algo já aconteceu uma vez ela necessariamente acontecerá de novo. É usar as informações do passado para garantir que o futuro será de determinada forma, e não para estimá-lo. Toda previsão carrega consigo uma margem de erro (e se isso? e se aquilo? e se não isso?). Sabendo dosar essas coisas, não vejo muitos problemas para usar informações passadas.
[]'s
Fala, AP2038!
ExcluirConcordo em exatamente tudo q vc disse! rsrsrsrs
Acho me expressei mal; o q estava me referindo era justamente ao q vc escreveu neste último parágrafo.
[]s!
Excelente postagem dimarcinho.
ResponderExcluirO conceito de esperança da estatística é muito bom, ao menos eu gosto.
O risco que você diz nas opções é um caso bastante interessante.
Uta!
Fala, Estagiário!
ExcluirDá pra fazer umas contas com opções, mas não fiz para não esticar muito o texto.
[]s!
dimarcinho:
ResponderExcluirDeixe-me ver se entendi, basicamente o risco deve estar atrelado a probabilidade dele acontecer? Se for isso eu concordo. Se o meteoro cair na terra podemos todos morrer (risco alto), mas a probabilidade disso acontecer é remota, então não precisamos nos preocupar diariamente com isso.
Abraço!
Corey
Fala, Corey!
ExcluirVc quase entendeu! rsrsrs
O risco é a multiplicação entre o dano causado e possibilidade dele ocorrer.
No seu exemplo, meteoro cair na terra e todos morrermos (dano estratosférico); probabilidade ocorrer (achamos que é baixíssima).
Mas é aí que está: a probabilidade vai compensar o risco?
Por exemplo, qdo vc sai na rua num dia de chuva corre o risco de morrer se um raio cair em vc. Mas qual a probabilidade disso ocorrer?
Na vida, corremos risco o tempo inteiro. Risco faz parte da vida.
[]s!