Outro dia estava lendo um artigo num blog que eu acompanho e achei super interessante a estratégia de Asset Allocation
proposta pelo blogueiro. Em outro artigo, ele menciona novamente a mesma
estratégia.
A idéia de alocar capital é essencial. Saber onde colocar o
dinheiro, a hora de certa de comprar e hora certa de vender são, em suma, o que
todos procuram. E para isso vemos de tudo por aí.
Sugiro ler o artigo. Caso não tenha lido, vou resumir mais
ou menos:
Digamos que você seja
um cara com perfil de investidor moderado. Você investe um pouco em ações e a
maior parte em renda fixa.
Se suas ações sobem,
você aproveita a alta e vende pra embolsar o lucro e, com o lucro, compra mais
títulos de renda fixa, assegurando assim o lucro.
Caso as ações comecem
a cair muito e haja um horizonte de crescimento no longo prazo, pode estar aí
uma boa oportunidade para compra. Daí, você vende alguns títulos de renda fixa
e com o dinheiro compra as ações.
Assim você sempre
vende na alta e compra na baixa.
Muito legal, não é verdade? Com esse tipo de estratégia você
não precisa ficar se preocupando com a oscilação do mercado! Só que isso é uma
grande falácia!
Eu realmente achei muito boa a estratégia, quando li a
primeira vez. E achei tão boa que fui pro Excel fazer umas continhas pra ver em
quanto a Alocação de Capital iria conseguir bater a renda fixa. Mas aí tomei um
susto: em quase todas as ocasiões a alocação perdia pra renda fixa! Ou
seja, a ideia, desta maneira como apresentada, apenas PARECE ser boa, mas na
verdade é bem ruim.
Se você é bom em matemática pode até já ter percebido o
porquê, mas vamos por outra linha.
Mantendo a mesma estratégia, à medida que as ações sobem
você vai vendendo e embolsando o lucro. Só que essa estratégia é péssima, pois
se as ações estão num ritmo constante de crescimento a ideia é vender tudo no
final e não agora!
É exatamente o oposto de uma estratégia recomendada por
muitos, que é a de comprar ações aos poucos, todo mês.
A tática de vender enquanto a ação sobe diminui
drasticamente os lucros que poderiam ser obtidos.
Fiz várias simulações. Pegando o exemplo do artigo, fiz algo
assim:
Capital Inicial: R$ 10.000,00, divididos em:
Ações: R$ 2.500,00
Renda Fixa: R$ 7.500,00
Percentual máximo em ações: 25%
Percentual mínimo em ações: 20%
Rentabilidade da renda fixa: 8,6% ao ano
Período avaliado: 15 anos
Como as ações são ativos voláteis, fiz várias simulações em
possíveis cenários. Com uma "volatilidade" de 20% ao ano (ou seja, ela pode ir de
-20% a +20% ao final do ano), a qual é bastante razoável.
Neste tipo de cenário (sem tendência), o resultado da
alocação é desastroso. Apenas numa média de 8% a alocação conseguiu vencer a
renda fixa.
Bom, olhando pelo lado que o investidor sabe escolher suas
empresas e irá comprar ações que cresçam ao longo do tempo, fiz volatilidade de
-10% a +20%. Estatisticamente, o valor final, nessas condições, na maioria das
vezes será maior que o valor inicial, pois há uma tendência clara de alta. Mas
não necessariamente vencerá a renda fixa. Clique aqui para ver um desses
exemplos.
Com esses valores, a alocação conseguiu vencer a renda fixa
em torno de 55% das vezes. Também conseguiu vencer as ações em torno de 40%.
Ambos os números são péssimos, pelo que se apresenta a estratégia. Mas, quando
as ações não sobem muito, é natural que a alocação renda mais que as ações, mas
não necessariamente mais que a renda fixa. Analisando desta maneira, chega-se a
conclusão que em apenas 10% dos casos a alocação consegue vencer ambos!
Em resumo, se você seguir essa estratégia hoje, terá 45% de chance ter um rendimento menor do que se tivesse colocado na renda fixa. Terá 60% de
chance de ter um rendimento inferior com ações e apenas 10% de chance de vencer
os dois ao mesmo tempo! Ou seja, a estratégia é péssima (estou falando de um
horizonte de longo prazo!)
Não satisfeito, ainda fiz outra simulação, para o caso de as
ações subirem fortemente (entre -10% e +30%). Resultado do Allocation (em
média):
Vencer a renda fixa: 98%
Vencer as ações: 1%
Vencer ambos: 0%
Outra análise que fiz foi em relação ao capital médio final,
em cada situação. Ficou mais ou menos assim:
Volatilidade
|
Renda Fixa
|
Ações
|
Estratégia Proposta
|
-10% a +10%
|
R$ 34.358
|
R$ 10.000
|
R$ 23.000
|
-10% a +20%
|
R$ 34.358
|
R$ 40.000
|
R$ 35.000
|
-10% a +30%
|
R$ 34.358
|
R$ 165.000
|
R$ 49.000
|
Assim sendo, na média, a estratégia é ruim. O Asset
Allocation, da maneira como colocada, só consegue ganhar da renda fixa quando o mercado de ações se
apresenta com tendência altista e, mesmo assim, perde feio pro mercado de
ações.
Esta estratégia de Asset
Allocation é interessante quando você conhece o mercado e sabe avaliar as
empresas, se estão valorizadas ou subvalorizadas. Neste caso, aí sim, você
pode (e deve!) vender as ações quando o mercado está naquela euforia louca (o
que sempre precede uma grande queda) e vender alguns títulos de renda fixa para
comprar as ações na baixa.
Agora, sobre a estratégia de vender em cima de um percentual
pré-estabelecido sobre o patrimônio, foi demonstrado que é péssimo, pois perde
fácil para renda fixa, mesmo em mercado com tendência altista.
Cuidado com o que você lê! Estude para poder fazer
avaliações. Existem muitas falácias narrativas! Eu mesmo fiquei “encantado” com
a estratégia inicialmente, mas depois com as contas vi que era uma grande
furada. E olha que o blog é muito bom, mas talvez o jeito que o autor tenha
colocado pode estar confundindo as pessoas e essa é a minha preocupação com
este artigo.
Não tem jeito. Caso você queira investir em ações, tem que
estudar o mercado e as empresas. Não tem tempo, nem paciência ou simplesmente
não gosta? Vá para renda fixa mesmo.
Abraços a todos!
dimarcinho,
ResponderExcluirVocê está literalmente fora da realidade.
A volatilidade do mercado acionário pode gerar uma rentabilidade positiva superior a 100% no período de um ano, assim como a perdas de mais de 60% (Isso considerando o Índice Bovespa, porque se for levar em consideração ações individuais o prejuízo pode ser bem maior).
A estratégia da alocação de ativos serve exatamente para reduzir a volatilidade da carteira de investimento, produzindo resultados mensais muitas vezes modestos, porém constantes.
Se liga!!! Fazer simulação não significa poder inventar quaisquer valores... não é assim que funciona como ações.
Outra coisa: você foi muito desrespeitoso em seu site.
Breno Medeiros
Bruno,
Excluirneste exato momento terminei um novo estudo e já já vou publicar aqui no blog.
Já adianto que usei dados reais e a conclusão foi a mesma.
Abraços!
Dimarcinho,
ResponderExcluirFiz um estudo interessante que demonstra os perigos de um investimento 100% em ações.
METODOLOGIA:
Para a renda variável utilizei uma variação anual entre -30 e 40% (fórmula ALEATÓRIOENTRE do Excel). Utilizei um período de 30 anos e fiz o teste 16.383 (dezesseis mil trezentas e oitenta e três vezes) vezes. Com os valores dos 16.383 testes, fiz a simulação ano a ano de cada uma dessas carteiras para saber qual seria o patrimônio ao final dos 30 anos, ou seja, verificar se foram ou não vencedoras.
Para a renda fixa utilizei um rendimento constante de 4% ao ano.
RESULTADOS PARA A RENDA FIXA
Para a renda fixa o resultado foi mais simples, pois o rendimento constante de 4% ao ano gerou um acúmulo de 324,33% ao final de 30 anos. Nenhuma novidade.
RESULTADOS PARA A RENDA VARIÁVEL
Já para a renda variável os resultados são bem interessantes, vejam as estatísticas:
Apenas 39,25% das carteiras (6.431) superaram o retorno da renda fixa (de 4% ao ano).
Enquanto isso, 21,57% das carteiras (3.535) tiveram rendimento menor que o valor investido.
Por outro lado, 0,21% das carteiras (35) conseguiram rendimento superior a 5.000% (SORTUDOS!!!).
Mas é melhor não abusar da sorte, pois 7,63% das carteiras (1.251) tiveram como retorno do investimento menos de 50% do seu patrimônio (AZARADOS!!!).
Pior, 0,24% das carteiras (40) tiveram como retorno menos de 10% do seu patrimônio (MUITO AZARADOS!!!).
CONCLUSÃO
Quem sou eu para concluir ou aconselhar alguma coisa.
Faltou a assinatura: Breno Medeiros
ExcluirNOVO ESTUDO
ResponderExcluirNo primeiro estudo utilizei uma variação anual para a renda variável entre -30 e 40% para poder haver uma comparação entre as minhas informações e da de Dimarcinho.
Entretanto, não considero esses valores uma realidade para o mercado acionário, por isso, dessa vez utilizarei uma variação entre -80 e 120%. O que parece ser até mais generoso em relação ao ganho médio das ações.
Em relação à renda fixa continuarei utilizando 4% ao ano, pois considero um valor possível de se obter desconsiderando, inclusive, a inflação.
Continuarei simulando um período de 30 anos e acompanhando o resultado de 16.383 carteiras. Talvez não tenha ficado claro no meu primeiro estudo, mas estou utilizando para os cálculos apenas um aporte inicial.
RESULTADOS PARA A RENDA FIXA
Não houve alteração metodológica para a análise da renda fixa, portanto, o resultado foi o mesmo: 324,33% no período de 30 anos.
RESULTADOS PARA A RENDA VARIÁVEL
Para a renda variável, mesmo eu tendo aumentado em muito o rendimento médio, verifica-se que a maioria das carteiras continua saindo derrotada. Vejamos os resultados pelas estatísticas:
53,78% das carteiras (8.811) não superaram o retorno da renda fixa (de 4% ao ano). Observem que o retorno da renda fixa é ultraconservador.
40,08% das carteiras (6.567) obtiveram um resultado percentual abaixo do patrimônio inicial.
32,15% das carteiras (5.268) obtiveram um retorno de menos de 50% do patrimônio inicial.
CONCLUSÃO
Não deixo uma conclusão, mas uma observação.
Foi simulado um período de 30 anos e a análise demonstrou que a maioria das carteiras não consegue bater a renda fixa. isso se deve à grande volatilidade do mercado acionário. No estudo foram simuladas 16.383 carteiras, mas na vida real talvez não tenhamos uma segunda chance.
Breno Medeiros
TERCEIRO ESTUDO
ResponderExcluirAté agora, considerando a metodologia adotada, os meus estudos mostraram que um investimento concentrado 100% em ações pode deixar a pessoa milionária, entretanto, a probabilidade maior é que não se consiga bater nem mesmo a renda fixa.
Apresento este terceiro estudo para provar que caso haja um rebalanceamento anual, independentemente de como estiver a carteira, os dados melhoram e muito.
METODOLOGIA
Utilizando exatamente os mesmos dados das carteiras da renda variável do segundo estudo vou definir um balanceamento 50% renda fixa (rendendo 4% ao ano) e 50% renda variável (fórmula ALEATÓRIOENTRE do Excel). Dessa forma, cada carteira vai render anualmente 2% ao ano (metade da renda fixa) mais a metade do valor gerado aleatoriamente pelo Excel.
Assim como no segundo estudo foram utilizados: variação entre -80 e 120%; um período de 30 anos; 16.383 carteiras; e apenas um aporte inicial.
RESULTADOS
78,17% das carteiras (12.807) superaram o retorno da renda fixa (de 4% ao ano).
5,94% das carteiras (974) obtiveram um resultado percentual abaixo do patrimônio inicial.
CONCLUSÃO
Comparadas exatamente às mesmas carteiras do segundo estudo, observa-se que das carteiras alocadas 100% em ações apenas 46,21% (7.572 carteiras) conseguiram retorno superior à renda fixa, enquanto das carteiras balanceadas 78,17% (12.807 carteiras) conseguiram um retorno superior.
Mas o dado que mais impressiona é o das carteiras que terminam os 30 anos com o percentual abaixo do patrimônio inicial: 40,08% (6.567) das carteiras alocadas 100% em ações e 5,94% (974) das carteiras balanceadas.
A melhora no resultado para as carteiras balanceadas foi possível devido à menor volatilidade anual, que geraram retornos menores, porém, constantes.
Mas eu não poderia deixar de falar alguma vantagem da alocação 100% em ações. O rendimento médio ao final de 30 anos dessas carteiras foi 8 vezes maior que o das carteiras balanceadas. O problema é que apenas 7,36% das carteiras conseguiram um rendimento igual ou superior à média. Aí voltamos à questão: vale à pena correr o risco de investir 100% do seu patrimônio em ações sabendo que menos da metade das carteiras vai conseguir superar a renda fixa?
LIMITAÇÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA
Não pude utilizar um rebalanceamento mensal, pois os dados das variações são anuais. Por causa disso, cabe a sugestão de um estudo que leve em conta um rebalanceamento que corrija os desvios na alocação, levando em conta algum percentual e que possa ser efetivado em qualquer mês e não apenas anualmente. Talvez o resultado possa ser melhorado ainda mais.
Breno Medeiros
Estatística Bayesiana.
ResponderExcluir1) Qual o percentual que a Estratégia venceu a renda fixa dado que a renda variável perdeu pra renda fixa?
2) Qual o percentual que a Estratégia venceu a renda fixa dado que a renda variável venceu a renda fixa?
[]s!